04/11/08

Antonho Alberto Lopes - Fuonte Lhadron

norte de Angola


LAS BALAS


Son de fierro. Ou de aço?
Diç que fázen al antrar
un buraquito,
seguido dua grande
debastaçon de carnes
sangradas. Por esso mátan.
Li todo subre la muorte.
Screbi subre la mie
i aspuis amborrachei-me.
La bala ben pul aire
(bruar ounomatopaico) i
speta-se, scaba, ceba-se
nessas carnes. Era la mie.
Tube ua bala marcada:
a la última hora telfonei
a zistir. ‘da-sse!
Pior pa l Soares que entra
nestes bersos yá muorto.
Son de fierro. La tue era,
á Soares, ou de aço,
i “agora choro cuntigo”
ousente ua bila
branca no Alanteijo: tu.

Diç que fázen assi
un pequerrechico atuntado
buraquito (nun quije ber)
cume un boton mas
sbarrúlhan todo, çfázen
chichas, tripas nobres,
i anton trázen anté nós
la muorte chena de sangre.
Se inda las fázen
cume no miu tiempo, peç-me
que mátan nun, á si,
anfenitésimo de sigundo.
Ye brutal. You oubi-las:

Perde-se l teson por un seclo.

Fernando Assis Pacheco - MUSA IRREGULAR - Catalabanza, Quilolo e Volta


(ne l'oureginal) AS BALAS


São de ferro. Ou de aço?
Diz-se que fazem à entrada
um pequeno orifício,
seguido de uma grande
devastação de carnes
sangrentas. Por isso matam.
Li tudo sobre a morte.
Escrevi sobre a minha
e depois embebedei-me.
A bala vem pelo ar
(ruído onomatopaico) e
crava-se, cava, ceva-se
nessas carnes. Era a minha.
Tive uma bala marcada:
à última hora telefonei
a desistir. ‘da-se!
Pior para o Soares que entra
nestes versos já morto.
São de ferro. A tua era,
ó Soares, ou de aço,
e “agora choro contigo”
ausente uma vila
branca do Alentejo: tu.

Diz-se que fazem assim
um pequeníssimo estúpido
orifício (não quis ver)
como um botão mas
destroem tudo, devastam
tecidos, vísceras nobres,
e então trazem até nós
a morte sanguinolenta.
Se ainda as fabricam
como no meu tempo, creio
que matam num, ah pois,
infinitésimo de segundo.
É brutal. Eu ouvi-as:

perde-se a tesão por um século.

04-11-1971

4 comentários:

Félç disse...

Antonho Alberto Lopes era miu primo, um primo meu que la mai, tie Marie Barbela, tanto chorou e cuntinua a chorar.
En nome deilha deixo um agradecimento por bos lhembrardes de el.
Bien haija Abelhón

Tortulhas disse...

Este texto marca-nos pelo seu realismo, mas com palavras muito tiranas; é contudo necessário recordar esse episódio sangrento da nossa história ligada ao ultramar.
Há quem diga que chega de lembrar o passado, mas, mesmo a mim, esta foto não me pode deixar indiferente pois estava presente nesse momento doloroso do funeral de António Lopes e tenho presente o ruído dos tiros na minha memória de criança e os gemidos dos pais. Tenho a certeza que são memórias que devem ser revividas incessantemente, honrando o que deve ser honrado, lembrando o que foi vergonhoso. E sonhemos que seremos todos, um dia, homens do passado.
Marx dizia que “o povo que ignora o seu passado, está condenado a repeti-lo”. Há certamente uma negligência de memória, de recordação ou de atenção que se vai instalando pouco a pouco em relação a essas pessoas que fizeram progredir a nossa sociedade, a nossa cultura, a nossa juventude … Talvez tenhamos que ter em conta pelo menos o seu carácter pedagógico, recordar ou ensinar aos nossos filhos e netos o que foi essa guerra que destruiu tantas famílias.
Só para relembrar, o corpo de 3.000 militares mortos continua ainda em terras de Africa. Um pensamento para cada um deles…
Adriano Valadar

Tortulhas disse...

Buonas nuites a todo mundo!

You nun coinci a Antonho Lopes, mas conheço bien la mai, tie Bárbela, ls armanos, Alxandre i Zé Antonho i ls sobrinos.
Ye ua honra podé-me ajuntar a la houmenaige de que Abelhon, an buona hora, se lhembrou!

Antonho Lopes fui la "malha que Fuonte Lhadron teciu pa l ampério"...
bien scusada!

Tortulhas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.