28/02/20

Ua cuonta






You nun sei s’era pecado

La casa adonde me criei cun dous armanos i ua armana, la casa de mius pais era probe, ou seia teniemos uas suortes, poucas, uas lhatas, ua cortinica, huortas, dues baquitas ua burra i un ganado.
Esse si era baliente, andaba siempre farto i era esse l que se podie dezir que matou siempre la fame a la família.
Cunfirmando l que siempre la sabedorie popular dixo: casa que ten canhona i croua nun anda a pedir.
L ganado stercaba las tierras, daba lhana, bendiemos cordeiros, bazias i machorras.
Mas castanheiros nun teniemos, melhor dezindo, teniemos dous, que dában uns pelhiços cuas castanhicas funecras, que ye l mesmo que dezir que deilhes nun apanhábamos castanhas.
Se las queriemos quemer teniemos que las apanhar ne ls castanheiros de ls outros, de las casas ricas.
Assi sendo ne l tiempo deilhas, quando durante las nuites fazie airaçadas i ls pelhiços las pingában, alhá íbamos nós bien cedico, inda pul scuro de la nuite por adonde habie castanheiros i quando l clareio de l die las deixaba ber, apanhabamos uas cerronadas deilhas.
I manhana a manhana alhá íbamos ponendo nua cesta de brime an casa.
Nas nuites d’ambierno al serano, çpuis de la cena, nas lhares de l chupon subre l braseiro ou c’uas scobas, miu pai ponie l assador i uas ambuças de castanhas.
Assadas çtribuie por todos, esses belhós de las castanhas apanhadas a las scundidas, roubadas, rapinadas de castanheiros alhenos nas manhanas fries i húmadas, fazie l regalo de la família.
Nun tiempo de caldo, patatas, pan i chica, an que l que se chama agora “sobre mesa” – que ye la fruita ou ls doces – ls bilhós fazien la beç.
Cousa más gustosa nun habie, sabien tan bien que quando éran muitos inda ls guardábamos para quemer soutrodie quando mos alhebantabamos de la cama.
S’era pecado nun l sei, cuido que nun era, ls ricos, ls duonhos de ls castanheiros ralas éran las bezes que dában por eilha, puis tenien muitas, l cura i cunfessor nunca me castigou.
Quien nun cometie pecados destes?

Faustino Antão

11/02/20

Crónica








Dou l nome de crónica a esta reçma de perguntas, mas nun ye la “Crónica de ls Buonos Malandros” cumo screbiu nun lhibro l eilustre cronista Mário Zambujal. 

Mas si porque me chegou la gana de zabafar.

Sou hai alguns anhos, por bias d’ajudar un nieto, un home de la cidade de Lisboua, por ende passo uns buns cachos durante la semana. I por ende biaijo, ando l mais de las bezes a modos de bagamundo i s’hai ua cousa que ls bagamundos fázen bien ye mirar, oulhar, arreparar nas obras i matutar an muitas cousas, seian buonas ou malas. 
 
-Porque se fázen?
-Se son necairas?
-Qual l’outelidade?
-Se nun se podien fazer outras, ambriar l denheiro i l sfuorço aonde fusse melhor para todos, sien zbirtuar ls cumpormissos i porjetos? 

I ben a perpósito l que l retrato que publico arriba amostra.

Sítio bien coincido, afamado puis ye acerca dun Património Nacional, que se bei atrás de la floresta de fierro. Sítio que ye tamien carton de bejita pa pertueses i  strangueiros que bénen a la capital.


Património




Las siete armanas (Santas)



-Nuossa Senhora de l Naso (Miranda de l Douro)

-Senhora de la Lhuç (Miranda de l Douro)

-Senhora de la Salude (Bal de Janeiro)

-Senhora de la Sierra (Bergáncia)

-Senhora de l’Assunçon (Bila Frol)

-Senhora de las Niebes (Monte Miel)

-Birge de l Castielho (Pereinha-Spanha)



  “Diç la lhienda que se chobírun todas 
an cabeços para se béren i faláren uas culas outras”.

03/02/20

Ambora que saliu ne l jornal “Diario de Notícias”-27.01.2020



Mirandês: Ensino em Lisboa tem “bastante” procura apesar da falta de apoios.

Numa pequena sala da Casa de Trás-os-Montes em Lisboa, funciona à segunda-feira e em horário pós-laboral uma aula de língua mirandesa, onde até um aluno francês de Erasmus já se inscreveu para aprender esta língua falada no nordeste transmontano.
Antes de dar início a mais uma aula, António Cangueiro, professor de mirandês, falou à Lusa sobre este seu percurso, que começou ainda com o escritor, professor universitário, estudioso e divulgador da língua mirandesa Amadeu Ferreira, que instituiu o curso em Lisboa há dez anos.
“O primeiro ano ainda foi com Amadeu Ferreira, ele vinha dar literatura e eu e outro amigo, Francisco Domingues, vínhamos dar as classes”, lembrou.
A funcionar há dois anos na Casa de Trás-os-Montes, as aulas de mirandês são atualmente lecionadas em conjunto com outra professora, Adelaide Monteiro, e “a procura tem sido bastante”, assegura.
“A prova está aqui nos cursos da Casa de Trás-os-Montes. No ano passado findaram o curso 15 alunos, um deles era de origem francesa, que veio fazer Erasmus e teve interesse, matriculou-se e frequentou o curso”, contou, assegurando que “há muito interesse desde que a língua foi aprovada como língua oficial”.
No entanto, faltam apoios do Estado: “a língua mirandesa não tem qualquer apoio oficial”, alertou.
“Eu venho para aqui a minhas despesas, a outra amiga vem cá por iniciativa própria, a Casa de Trás-os-Montes abre-nos a casa para darmos aqui o curso, mas o esforço é nosso, é pessoal, a nível do Estado não tem havido apoio nenhum para este curso, e é pena”, lamentou António Cangueiro, apoiado por alunos, de todas as idades, que iam chegando e se juntavam à conversa.
Recorda também que no ano passado, alguns representantes do Parlamento Europeu estiveram em Miranda do Douro a fazer uma auscultação à população e às escolas, “para que o Estado assinasse a Carta Europeia das Línguas Minoritárias, porque se assinar essa carta compromete-se com alguma coisa, algo que não tem feito e continua a não fazer”.
Para este professor é difícil compreender como é que o Estado aprova uma língua e depois não cria normas nem apoios financeiros anuais para a língua se poder divulgar.
Apenas em Miranda do Douro existe um professor no ensino oficial, que “é colocado todos os anos e mesmo assim é uma dificuldade enorme para ele ser colocado”.
Em Lisboa, o custo das aulas é cinco euros, um valor “simbólico” que mais não é do que uma “ajuda para pagar a luz”, refere.
A maior parte dos alunos ali inscritos mora na zona de Lisboa e inscreve-se sobretudo por curiosidade, mas também já houve alunos transmontanos e alentejanos, quase todos com formação superior, descreve António Cangueiro, traçando um perfil dos alunos.
Leonardo Antão é um desses alunos, e o mais antigo em Lisboa, tendo começado a aprender nos primeiros cursos ministrados por Amadeu Ferreira.
“Procuro vir todos os anos, pelo amor que tenho à língua mirandesa, porque a aprendi em pequenino, ao colo da minha mãe, que falava só língua mirandesa e que era, por ironia do destino, analfabeta, mas a língua dela era o mirandês”.
No extremo oposto, Gerson Costa é o aluno mais recente do curso. Inscrito desde dezembro do ano passado, este jovem, dono de uma empresa de tradução, descobriu casualmente, através da página do Facebook, que a Casa de Trás-os-Montes lecionava aulas de mirandês e que esta era a segunda língua oficial portuguesa.
Assegura que não foi por motivos profissionais, apenas por curiosidade pessoal, que se inscreveu, porque, já que está no campo das línguas, achou que “ficava bem, pelo menos, entender aquilo que é dito na outra língua portuguesa do país”.
E é nessa mesma lógica, que Gerson Costa tem dificuldade em entender como é que uma língua oficial, não o é na prática.
“Começa a haver literatura, as pessoas continuam a falar mirandês em casa, os mais velhos falam, mas para isso não era preciso ser uma língua oficial, não era preciso regulamentar. Para ser uma língua oficial, precisa de ser falada na Câmara Municipal, precisa de ser falada nas assembleias de Junta de Freguesia, precisa de ser falada no tribunal da cidade, e isso falta”.
O presidente da Casa de Trás-os-Montes, Hirondino Isaías, mostra-se empenhado na divulgação do mirandês, razão por que assinou um protocolo com a Associação de Língua Mirandesa, no sentido de criar este curso.
No entanto, queixa-se da falta que faz “o poder central dar o passo definitivo, que é o Ministério da Cultura aprovar uma pequena verba para a divulgação ao nível das escolas” em outros concelhos do país, como acontece em Miranda do Douro.
A língua mirandesa é uma língua oficial de Portugal desde 29 de janeiro de 1999, data em que foi publicada em Diário da República a lei que reconheceu oficialmente os direitos linguísticos da comunidade mirandesa.
(de l Diário de Notícias, 27-01-2020)