09/09/07

L riu mais melancólico

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Riu Sabor por alturas de Mogadouro [Retrato de C.Ferreira]


Muito se ten falado de l riu Sabor i muita paixon i rábia se ténen çpertado por bias dua barraige que ban a fazer. Agora stá decidida la barraige i inda ye tiempo de coincer l riu cumo siempre fui, que apuis yá nun será possible.

Deixo eiqui un retrato dun cachico de l riu i ua pequeinha mimória de José Leite de Vasconcellos de quando bieno a las tierras de Miranda pula purmeira beç, i passou pul riu Sabor. Diç assi:

«Chegava eu o ano passado (1883) às margens do Sábor, o rio mais melancólico que tenho visto, pelo menos no sítio em que eu o atravessei. Nesse momento ouço uma voz de quem cantava; aproximo-me mais, e vejo uma lavadeira, que, batendo a roupa numa fraga à beira da água, dizia, entre outras cantigas que não pude escrever:

Ó rio q’assi bais grande,
Oh! málo haijas, Sabôr!
Leba
areia e leba lôdo,
Num lebes o
meu amor!

Que expressão e que sentimento em tão poucas palavras! Imaginam os leitores a impressão que tal quadrinha me causou! Eu ia moído da viagem de umas poucas de léguas, a cavalo; debaixo de sol ardente, que ali mal era mitigado pela aragem fresca do rio; sem comer, havia mais de doze horas: pois demorei-me um pedaço, e parece que esqueci por um instante todos os meus incómodos, a escutar a toada saudosa e melancólica daquela mocinha abrasada de amor! O Sábor corria por uma orrêta, como dizem, isto é, por um vale profundo; de todos os lados descobrem-se serras altíssimas e dilatadas, apenas cobertas de mato; não se um povo, não se encontra um simples casebre: de modo que o canto da lavadeira dava à solidão doçura e melancolia indizíveis.

Lembro-me sempre, com saudade, do modesto incidente, que não obstante, traçou na minha alma sulco duradouro


José Leite de Vasconcellos, A Voz do Douro, nº 259, de 18 de Junho de 1884 [tamien publicado an Opúsculos VII, Imprensa Nacional, 1938, pp. 1371-1372]


1 comentário:

"Scacição" disse...

sin palabras,cumo se diç,uã eimaije bale mais que mil palabricas!

gustei muito de ler este riu melancólico,"yé l fado del riu"