Marie Eirene Beiga Bicente Domingues naciu a 12 de Outubre de 1952, na fraguesie de Caçareilhos, cunceilho de Bumioso, çtrito de Bergáncia. An 1972 mudou-se para Lisboua. Eiserciu funçones ne l Menistério de la Eiducaçon durante 25 anhos. Atualmente, trabalha nua scuola particular i eiserce, an regime de beluntariado, las funçones de bice persidente de la Lhiga Pertuesa Contra las Malinas Reumáticas i de persidente de la Plataforma salude an diálogo.
La mie poesie rumpiu l siléncio i ajuntou-me outra beç als outros
Depuis daquele acidente brutal, depuis de tener oubido l doutor a falar ne l miu stado parapléigico, depuis de saber que nenhua fuorça de buntade me iba a poner a andar ó restituir la outonomie que tubira anté aquel stúpido xoque de altemobles, mirei cun raiba pa la mie metade de l cuorpo sien bida, cuidei oudiar la cadeira de ruodras.
Barafustei, preguntei un milhon de bezes al cielo”porquei you?”, afundi-me na solidon, nun querie repartir l miu sufrimiento culs mius entes queridos, julguei-me l home mais zgraciado de l mundo. Sentie-me cada beç mais zgraciado i anjustiçado, culpaba todo i todos ls que tenien cuntribuído para me faltar la moblidade i la alegrie de bibir. Ls dies i las sumanas passórun, la muralha de l siléncio crecie.
Staba buolto para andrento de mi, parecie anté sentir prazer naqueilha solidon que se stendi cumo mancha d´azeite. L que al ampeço cuidara ser raiba i culpa streformaba-se an pena de mi mesmo, un quaije prazer mórbido an que ls outros me oulhássen cun pena. Ls dies íban-se tornando anseportables. Fui nesse momento que l amigo Fracisco me lhembrou que you tenie dotes i que debie sforçar-me por ls reabibar. Dotes pa la scrita, antenda-se, poetaba, alguas rebistas tenien acolhido ne l passado ls mius arroubos lhíricos. A la purmeira dixe que nó, l pertesto era l de que nun querie streformar l miu delor an poema, publicitar que staba deficiente i anraibado cula mie cundiçon. El ansistiu, lhembrou-me grandes poetas que tenien bibido ne l anonimato i streformado l einfierno de las sues bidas nua lhírica que streformaba la bida de ls outros.
Un die surprendi-lo, pedi-le papel i l Bocabulairo Mirandés, dues sumanas apuis inda l surprendi mais quando le antreguei quadras screbidas an Mirandés. Seguírun para un jornal, aparecírun publicadas. L jornal sal to las quartas, tornei-me nun ser fortalecido, cunfiante. Çcubri la solidaridade de la poesie, l mistério de la sue quemunicaçon, que partilho culs mius amigos de l lar. La porsora Bina combidou-me para ir recitar la mie poesie a la scuola, fui ua fiesta ber las crianças quemobidas cun la simplicidade de las mies quadras. Quando sali de la scuola, acumpanhado pula pequenhada que manifestaba aprécio i respeito por un poeta de la sue tierra que screbie an Mirandés, quemobi-me a pensar que la felcidade eisiste.
Esta ye la mie berdadeira stória, an cumo benci la solidon abrindo l miu delor a la poesie, reganhando la eidentidade, deziendo nó a la solidon, quemunicando culs outros. Passei a chamar ls outros para acarinar las palabras na custruçon de l poema, recunciliei-me cun l delor oubsurdo, sinto-me bien a partilhar la poesie an Mirandés, nun solo cun quien falo an Mirandés mas cun todos ls outros. Deixei de prestar atençon a las queixas daqueilhes que fálan an solidon. Hai tantos poemas para fazer, hai tanta bida para partilhar cun ls outros!
Esto ye traduzido de l lhibro Menos Solidon. El stá nas lhibraries. S'inda nun teneis toca a cumprar, que ye por ua buona causa. Ancuntrareis alhá ls famosos de la nuossa praça. I ye un lhibro mui cumpleto. Toca a cumprar que lhebareis ua riqueza para buossa casa.
Agora l testo an Pertués
PLATAFORMA SAÚDE EM DIÁLOGO
Maria Irene Veiga Vicente Domingues nasceu a 12 de Outubro de 1952, na freguesia de Caçarelhos, concelho de Vimioso, distrito de Bragança. Em 1972 mudou-se para Lisboa. Exerceu funções no Ministério da Educação durante 25 anos. Actualmente, trabalha numa escola particular e exerce, em regime de voluntariado, as funções de vice presidente da Liga Portuguesa Contra as Doenças Reumáticas e de presidente da Plataforma saúde em diálogo.
A minha poesia rompeu o silêncio e juntou-me novamente aos outros
Depois daquele acidente brutal, depois de ter ouvido o médico falar no meu estado paraplégico, depois de saber que nenhuma força de vontade me ia pôr a andar ou restituir a autonomia que tivera até aquela estúpida colisão de automóveis, olhei com rancor para a minha metade do corpo sem vida, julguei odiar a cadeira de rodas.
Barafustei, perguntei um milhão de vezes ao céu”porquê eu?”, afundei-me na solidão, não queria repartir o meu sofrimento com os meus entes queridos, julguei-me o homem mais desgraçado do mundo. Sentia-me cada vez mais desgraçado e injustiçado, culpava tudo e todos os que tinham contribuído para me faltar a mobilidade e alegria de viver. Os dias e as semanas passaram, a muralha de silêncio crescia.
Estava ensimesmado, parecia até sentir prazer naquela solidão alastrava como nódoa de azeite. O que ao princípio julgara ser raiva e culpa transformava-se em pena de mim próprio, um quase prazer mórbido em que os outros me olhassem com pena. Os dias iam-se tornando insuportáveis. Foi nesse momento que o amigo Francisco me recordou que eu tinha dotes e que devia esforçar-me por os reavivar. Dotes para a escrita, entenda-se, poetava, algumas revistas tinham acolhido no passado os meus arroubos líricos. De imediato , recusei, o pretexto era o de que não queria transformar a minha dor em poema, publicitar que estava deficiente e zangado com a minha condição. Ele insistiu, recordou-me grande poetas que tinham vivido no anonimato e transformado o inferno das suas vidas numa lírica que transformava a vida dos outros.
Um dia surpreendi-o, pedi-lhe papel e dicionário Mirandês, duas semanas mais tarde ainda o surpreendi mais quando lhe entreguei quadras escritas em Mirandês. Seguiram para um jornal, apareceram publicadas. O jornal sai às quartas feiras, tornei-me num ser fortalecido, confiante. Descobri a solidariedade da poesia, o mistério da sua comunicação, que partilho com os meus amigos do lar. A professora Bina convidou-me para ir recitar a minha poesia a escola, foi uma festa ver as crianças comovidas com a simplicidade das minhas quadras. Quando sai da escola, acompanhado pela pequenada que manifestava apreço e respeito por um poeta da sua terra que escrevia em Mirandês, comovi-me a pensar que a felicidade existe.
Esta é a minha verdadeira história, em como venci a solidão, abrindo a minha dor à poesia, reganhando a identidade, dizendo não a solidão comunicando com os outros. Passei a chamar os outros para acariciar as palavras na construção do poema, reconciliei-me com a dor absurda, sinto-me bem, a partilhar a poesia em Mirandês, não só com quem falo em Mirandês mas com todos os outros. Deixei de prestar atenção aos queixumes daqueles que falam em solidão. Há tantos poemas para fazer, há tanta vida para partilhar com os outros!.
José António Esteves Lar de S. José Vimioso
Barafustei, perguntei um milhão de vezes ao céu”porquê eu?”, afundei-me na solidão, não queria repartir o meu sofrimento com os meus entes queridos, julguei-me o homem mais desgraçado do mundo. Sentia-me cada vez mais desgraçado e injustiçado, culpava tudo e todos os que tinham contribuído para me faltar a mobilidade e alegria de viver. Os dias e as semanas passaram, a muralha de silêncio crescia.
Estava ensimesmado, parecia até sentir prazer naquela solidão alastrava como nódoa de azeite. O que ao princípio julgara ser raiva e culpa transformava-se em pena de mim próprio, um quase prazer mórbido em que os outros me olhassem com pena. Os dias iam-se tornando insuportáveis. Foi nesse momento que o amigo Francisco me recordou que eu tinha dotes e que devia esforçar-me por os reavivar. Dotes para a escrita, entenda-se, poetava, algumas revistas tinham acolhido no passado os meus arroubos líricos. De imediato , recusei, o pretexto era o de que não queria transformar a minha dor em poema, publicitar que estava deficiente e zangado com a minha condição. Ele insistiu, recordou-me grande poetas que tinham vivido no anonimato e transformado o inferno das suas vidas numa lírica que transformava a vida dos outros.
Um dia surpreendi-o, pedi-lhe papel e dicionário Mirandês, duas semanas mais tarde ainda o surpreendi mais quando lhe entreguei quadras escritas em Mirandês. Seguiram para um jornal, apareceram publicadas. O jornal sai às quartas feiras, tornei-me num ser fortalecido, confiante. Descobri a solidariedade da poesia, o mistério da sua comunicação, que partilho com os meus amigos do lar. A professora Bina convidou-me para ir recitar a minha poesia a escola, foi uma festa ver as crianças comovidas com a simplicidade das minhas quadras. Quando sai da escola, acompanhado pela pequenada que manifestava apreço e respeito por um poeta da sua terra que escrevia em Mirandês, comovi-me a pensar que a felicidade existe.
Esta é a minha verdadeira história, em como venci a solidão, abrindo a minha dor à poesia, reganhando a identidade, dizendo não a solidão comunicando com os outros. Passei a chamar os outros para acariciar as palavras na construção do poema, reconciliei-me com a dor absurda, sinto-me bem, a partilhar a poesia em Mirandês, não só com quem falo em Mirandês mas com todos os outros. Deixei de prestar atenção aos queixumes daqueles que falam em solidão. Há tantos poemas para fazer, há tanta vida para partilhar com os outros!.
José António Esteves Lar de S. José Vimioso
3 comentários:
Amigo José António Esteves,
Eiqui se puode ber la amportancia de la cooperaçon de bárias personas i de la scrita de la lhéngua mirandesa para bencir la solidon i la falta de alegrie de bibir,depuis de un acidente brutal.
L nuosso amigo Francisco Domingues i la sue mui stimada tie Irene, fuoran ls buossos anjos de la guarda, l recuordar-bos que tenides dotes de poeta, an lhéngua mirandesa, que, a mie me dá mais felicidade, que an pertués.
La buossa poesie ye ancantadora i cun eilha ficou mui bolorizada la lhéngua mirandesa.
Ye tamien ancantadora esta buossa stória de bida, cumo bencistes la solidon, abrindo la buossa delor a la poesie, reganhando la eidentidade, deziendo nó a la solidon.
Amigo José Esteves cuontribuistes pal zambuolbimento i eboluçon de la scrita de la lhéngua mirandesa, recunciliando-bos cun la delor oubsurda i, mais amportante, cuontribuistes para fazer medrar l número de giente anteressada na nuossa querida poesie i lhéngua mirandesas.
Mais ua beç, parabienes por este cachico de ancantadora stória.
Un abraço mui arrochado de,
Leonardo
Buonas tardes amigo José Esteves,
Bien haias por haber publicado l testo de Irene ''La Solidon'', salido an Pertuês ne l lhibro referido.
Amigo Leonardo, L Francisco de l testo nun sou you, mas si Fracisco Niebro, que José Esteves tubo la suorte de ancuontrar nua fiesta de amigos.
Un abraço,
Francisco Domingues
Muito oubrigado Francisco por este sclarecimiento.
Muito oubrigado Amadeu Ferreira por esta çcobierta de tan eicelente poeta de la lhéngua mirandesa.
Parabienes Irene que screbiste este anteressante cachico de stória de la bida de l tiu José António Esteves, que ye ua proba de que hai ancuontros que son cumo un arado a labrar ua buona tierra. Rasgan na nuossa bida un suco adonde naçan muitos fruitos, neste caso, poemas i testos ancantadores.
Ls que cuntribuistes para sceber cachicos de stória de bida, cuomo este, que mos deixam chenos de proua, cuntribuistes para balorizar la nuossa eidentidade de mirandeses, por esso, sodes merecedores de la estima i cuonsideraçon de ls berdadeiros mirandeses.
Que cuntinueis a dar boç a la houmilde giente mirandesa, ye deseio de,
Leonardo
Enviar um comentário