09/11/17

Guerra Junqueiro


 

Perdo-me siempre an tues barbas de porfeta, i quaije me squeço de tous bersos i tues bidas, las candelas de ls uolhos a arder pulas arribas de l Douro, an carreirones adonde als Simpres todo le dolie: ls delores, ls anhos, las fames i, subretodo, aqueilhas arribas pali atiradas cumo s'atira un uosso a un perro, duras de rober, mais d'antretener fames que de las atamar. Por ende gasteste l tiempo redadeiro, que te sobrou de lhuitas i reboluçones, por ende te senteste ne l puial cul padre eiterno i poniste preguntas que cuntínan acesas cumo ua spina: «Em vão se pergunta hoje de que modo se perderam engenhos poéticos como o de Manuel Sardenha [Sardina], um dos mais valiosos colaboradores d'A Folha; ninguém se recorda dele na terra em que nasceu!". Todo esso ye ua berdade tan grande, que nun passa de falta de respeito por nós mesmos: naide se lhembra del na tierra adonde naciu. Como se mos scápan las mimórias, auga antre de ls dedos de l'ambuça que assi mos bai quedando bazie, cumo se tubíramos sido spulsos de la stória quando fumus nós que alhá nun quejimos antrar: mas houbo quien antrasse por essa puorta i mos lhebasse para alhá. Antoce, hai que screbir essa stória, rescrebi-la, respundendo a preguntas cumo la de Guerra Junqueiro: hai que le abrir las jinelas al tiempo, deixar antrar l aire pa que sala l oulor a mofo, anriba se puoda oupir la proua i mais uas paladas de tierra puodamos botar na foia de la bergonha.

 

Puosto por Amadeu at sexta-feira, novembro 07, 2008
Blog – cumo quien bai de camino -

..…//…..

guerra junqueiro

Perco-me sempre em tuas barbas de profeta, e quase me esqueço de teus versos e tuas vidas, as candeias dos olhos a arder pelas arribas do Douro, em carreiros onde aos Simples tudo lhe doía: as dores, os anos, as fomes e, sobretudo, aquelas arribas para ali atiradas como se atira um osso a um cão, duras de roer, mais de entreter fomes que de as acalmar. Por aí gastaste o tempo derradeiro, que te sobrou de lutas e revoluções, por aí te sentaste no poial com o padre eterno e puseste perguntas que continuam acesas como uma espinha: «Em vão se pergunta hoje de que modo se perderam engenhos poéticos como o de Manuel Sardenha [Sardina], um dos mais valiosos colaboradores d’A Folha; ninguém se recorda dele na terra em que nasceu!». Tudo isso é uma verdade tão grande, que não passa de falta de respeito por nós mesmos: ninguém se lembra dele na terra onde nasceu. Como se nos escapam as memórias, água entre os dedos de mão em concha que assim nos vai ficando vazia, como se tivéssemos sido expulsos da história quando fomos nós que lá não quisemos entrar: mas houve quem entrasse por essa porta e nos levasse para lá. Então, há que escrever essa história, reescreve-la, respondendo a perguntas como a de Guerra Junqueiro: há que lhe abrir as janelas ao tempo, deixar entrar o vento para que saia o odor a mofo, em cima se possa elevar a vaidade e mais umas pazadas de terra possamos lançar na cova da vergonha.

Traduziu: ac

Sem comentários: