Ensino em Lisboa tem
"bastante" procura por mirandês apesar da falta de apoios.
Vinte anos
após o reconhecimento do mirandês como segunda língua oficial em Portugal, em
Lisboa tem "bastante" procura, apesar da falta de apoios de que se
queixam os seus divulgadores.
Numa pequena sala da Casa de Trás-os-Montes em Lisboa, funciona à segunda-feira e em horário pós-laboral uma aula de língua mirandesa, onde até um aluno francês de Erasmus já se inscreveu para aprender esta língua falada no nordeste transmontano.
Antes de dar
início a mais uma aula, António Cangueiro, professor de mirandês, falou à Lusa
sobre este seu percurso, que começou ainda com o escritor, professor
universitário, estudioso e divulgador da língua mirandesa Amadeu Ferreira, que
instituiu o curso em Lisboa há dez anos.
"O
primeiro ano ainda foi com Amadeu Ferreira, ele vinha dar literatura e eu e
outro amigo, Francisco Domingues, vínhamos dar as classes", lembrou.
A funcionar
há dois anos na Casa de Trás-os-Montes, as aulas de mirandês são atualmente
lecionadas em conjunto com outra professora, Adelaide Monteiro, e "a
procura tem sido bastante", assegura.
"A
prova está aqui nos cursos da Casa de Trás-os-Montes. No ano passado findaram o
curso 15 alunos, um deles era de origem francesa, que veio fazer Erasmus e teve
interesse, matriculou-se e frequentou o curso", contou, assegurando que
"há muito interesse desde que a língua foi aprovada como língua
oficial".
No entanto,
faltam apoios do Estado: "a língua mirandesa não tem qualquer apoio
oficial", alertou.
"Eu
venho para aqui a minhas despesas, a outra amiga vem cá por iniciativa própria,
a Casa de Trás-os-Montes abre-nos a casa para darmos aqui o curso, mas o
esforço é nosso, é pessoal, a nível do Estado não tem havido apoio nenhum para
este curso, e é pena", lamentou António Cangueiro, apoiado por alunos, de
todas as idades, que iam chegando e se juntavam à conversa.
Recorda
também que no ano passado, alguns representantes do Parlamento Europeu
estiveram em Miranda do Douro a fazer uma auscultação à população e às escolas,
"para que o Estado assinasse a Carta Europeia das Línguas Minoritárias,
porque se assinar essa carta compromete-se com alguma coisa, algo que não tem
feito e continua a não fazer".
Para este
professor é difícil compreender como é que o Estado aprova uma língua e depois
não cria normas nem apoios financeiros anuais para a língua se poder divulgar.
Apenas em
Miranda do Douro existe um professor no ensino oficial, que "é colocado
todos os anos e mesmo assim é uma dificuldade enorme para ele ser
colocado".
Em Lisboa, o
custo das aulas é cinco euros, um valor "simbólico" que mais não é do
que uma "ajuda para pagar a luz", refere.
A maior
parte dos alunos ali inscritos mora na zona de Lisboa e inscreve-se sobretudo
por curiosidade, mas também já houve alunos transmontanos e alentejanos, quase
todos com formação superior, descreve António Cangueiro, traçando um perfil dos
alunos.
Leonardo
Antão é um desses alunos, e o mais antigo em Lisboa, tendo começado a aprender
nos primeiros cursos ministrados por Amadeu Ferreira.
"Procuro
vir todos os anos, pelo amor que tenho à língua mirandesa, porque a aprendi em
pequenino, ao colo da minha mãe, que falava só língua mirandesa e que era, por
ironia do destino, analfabeta, mas a língua dela era o mirandês".
No extremo
oposto, Gerson Costa é o aluno mais recente do curso. Inscrito desde dezembro
do ano passado, este jovem, dono de uma empresa de tradução, descobriu
casualmente, através da página do Facebook, que a Casa de Trás-os-Montes
lecionava aulas de mirandês e que esta era a segunda língua oficial portuguesa.
Assegura que
não foi por motivos profissionais, apenas por curiosidade pessoal, que se
inscreveu, porque, já que está no campo das línguas, achou que "ficava
bem, pelo menos, entender aquilo que é dito na outra língua portuguesa do
país".
E é nessa
mesma lógica, que Gerson Costa tem dificuldade em entender como é que uma
língua oficial, não o é na prática.
"Começa
a haver literatura, as pessoas continuam a falar mirandês em casa, os mais velhos
falam, mas para isso não era preciso ser uma língua oficial, não era preciso
regulamentar. Para ser uma língua oficial, precisa de ser falada na Câmara
Municipal, precisa de ser falada nas assembleias de Junta de Freguesia, precisa
de ser falada no tribunal da cidade, e isso falta".
O presidente
da Casa de Trás-os-Montes, Hirondino Isaías, mostra-se empenhado na divulgação
do mirandês, razão por que assinou um protocolo com a Associação de Língua
Mirandesa, no sentido de criar este curso.
No entanto,
queixa-se da falta que faz "o poder central dar o passo definitivo, que é
o Ministério da Cultura aprovar uma pequena verba para a divulgação ao nível
das escolas" em outros concelhos do país, como acontece em Miranda do
Douro.
A língua
mirandesa é uma língua oficial de Portugal desde 29 de janeiro de 1999, data em
que foi publicada em Diário da República a lei que reconheceu oficialmente os
direitos linguísticos da comunidade mirandesa.
(Entrevista dada por António Cangueiro a LUSA. Para ver é só clicar no link.
https://www.sapo.pt/noticias/nacional/ensino-em-lisboa-tem-bastante-procura-por_5c4d3c1d4b89dc05b65c7797?fbclid=IwAR0jcvu_bmrchV6YJWmpGQeh9anu9XSzmJbSlamz8JHcw1rqIdswRzqfTTw#_swa_cname=sapo_share&_swa_cmedium=web&_swa_csource=facebook&utm_source=facebook&utm_medium=web&utm_campaign=sapo_share
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