A opinião de ...
CARTA
Amadeu
 Ferreira foi recentemente homenageado em Lisboa, Miranda e outras 
localidades um pouco por toda a parte onde as suas qualidades humanas e 
inteletuais eram justamente conhecidas e reconhecidas. Sabemos bem que 
todas estas homenagens são menos que as que o escritor e estudioso 
sendinês merecia e mais que as que alguma vez desejou. Há contudo uma 
que sempre quiz e que ainda falta levar a cabo: a assinatura pelo Estado
 Português da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. 
Pressionar o Governo da Nação não pode ser apenas uma obrigação dos 
nativos das Terras de Miranda, mas de todos os portugueses e, 
especialmente de todos os transmontanos e, por maoria de razão, de todos
 os nordestinos.
 
A língua mirandesa ganhou a sua carta de alforria em Janeiro de 1999 com
 o reconhecimento de língua oficial (Lei 7/99 de 29 de Janeiro), 
entrando segura e por direito próprio no novo milénio ao lado da língua 
portuguesa, irmã e consorte, desde sempre. Neste território natal que é 
de todos nós. Não saiu. Como disse Amadeu no seu belíssimo Destino para uma Língua Moribunda (manifesto em forma de hino) “Por
 vezes ficava em casa à espera, pois não a deixavam ir para a Argentina,
 o Brasil, Sevilha, Lisboa, a França e outros mundos de Deus. Também 
nunca foi à guerra, mas tantas vezes morreu por lá.” Que mal 
compare, tem hoje a língua mirandesa cartão de cidadão mas não lhe 
outorgam o passaporte que a habilita a chegar, oficialmente a todos os 
locais onde de forma mais ou menos clandestina vai chegando, vivendo e 
mesmo morrendo. E onde é conhecida mas ainda não reconhecida. Falta-lhe o
 documento oficial. Que é gratuito, que nada exige em troca, que não 
contém qualquer risco político ou diplomático (que se saiba, e se 
contém, que no-lo digam para conjuntamente o apreciarmos e, 
eventualmente contraditarmos, como deve ser). E que por isso mesmo é 
absolutamente incrível que ainda não tenha sido assinado.
 
Incrível e inaceitável! Para todos os portugueses porque é parte do 
património lusitano que é ostensiva e gratuitamente impedido de 
reconhecimento. Para os mirandeses por razões óbvias. Miranda não é uma 
ilha nem o nordeste um arquipélago. O mirandês pediu emprestado ao 
português muitas palavras que incorporou como suas, como é dito no 
Manifesto atrás  referido. Mas igualmente emprestou e “contaminou” o 
português que se fala e entende em toda a região nordestina. É por isso 
património comum de Trás-os-Montes e dos transmontanos. É nosso, de 
todos os nativos da Terra de Duas Línguas.
 
Acertada e oportunamente, a Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo 
aprovou por unanimidade, na sua reunião de 27 de Abril, uma Moção 
protestando pela falta da assinatura da Carta Europeia das Línguas 
Minoritárias e exigindo a sua concretização urgente.
 
Outras entidades e gentes irão, certamente, juntar-se-lhe! Até que a injustificada injustiça seja reparada!
 
 
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