13/09/21

CARTA -

 

A opinião de ...

CARTA

Amadeu Ferreira foi recentemente homenageado em Lisboa, Miranda e outras localidades um pouco por toda a parte onde as suas qualidades humanas e inteletuais eram justamente conhecidas e reconhecidas. Sabemos bem que todas estas homenagens são menos que as que o escritor e estudioso sendinês merecia e mais que as que alguma vez desejou. Há contudo uma que sempre quiz e que ainda falta levar a cabo: a assinatura pelo Estado Português da Carta Europeia das Línguas Regionais ou Minoritárias. Pressionar o Governo da Nação não pode ser apenas uma obrigação dos nativos das Terras de Miranda, mas de todos os portugueses e, especialmente de todos os transmontanos e, por maoria de razão, de todos os nordestinos.
 
A língua mirandesa ganhou a sua carta de alforria em Janeiro de 1999 com o reconhecimento de língua oficial (Lei 7/99 de 29 de Janeiro), entrando segura e por direito próprio no novo milénio ao lado da língua portuguesa, irmã e consorte, desde sempre. Neste território natal que é de todos nós. Não saiu. Como disse Amadeu no seu belíssimo Destino para uma Língua Moribunda (manifesto em forma de hino) “Por vezes ficava em casa à espera, pois não a deixavam ir para a Argentina, o Brasil, Sevilha, Lisboa, a França e outros mundos de Deus. Também nunca foi à guerra, mas tantas vezes morreu por lá.” Que mal compare, tem hoje a língua mirandesa cartão de cidadão mas não lhe outorgam o passaporte que a habilita a chegar, oficialmente a todos os locais onde de forma mais ou menos clandestina vai chegando, vivendo e mesmo morrendo. E onde é conhecida mas ainda não reconhecida. Falta-lhe o documento oficial. Que é gratuito, que nada exige em troca, que não contém qualquer risco político ou diplomático (que se saiba, e se contém, que no-lo digam para conjuntamente o apreciarmos e, eventualmente contraditarmos, como deve ser). E que por isso mesmo é absolutamente incrível que ainda não tenha sido assinado.
 
Incrível e inaceitável! Para todos os portugueses porque é parte do património lusitano que é ostensiva e gratuitamente impedido de reconhecimento. Para os mirandeses por razões óbvias. Miranda não é uma ilha nem o nordeste um arquipélago. O mirandês pediu emprestado ao português muitas palavras que incorporou como suas, como é dito no Manifesto atrás  referido. Mas igualmente emprestou e “contaminou” o português que se fala e entende em toda a região nordestina. É por isso património comum de Trás-os-Montes e dos transmontanos. É nosso, de todos os nativos da Terra de Duas Línguas.
 
Acertada e oportunamente, a Assembleia Municipal de Torre de Moncorvo aprovou por unanimidade, na sua reunião de 27 de Abril, uma Moção protestando pela falta da assinatura da Carta Europeia das Línguas Minoritárias e exigindo a sua concretização urgente.
 
Outras entidades e gentes irão, certamente, juntar-se-lhe! Até que a injustificada injustiça seja reparada!

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